domingo, 10 de outubro de 2010

A imprensa tupiniquim vai ficar nua?

Reproduzo artigo da jornalista Débora Lerrer, publicado no blog "Fazendo correr o risco":

O episódio da demissão de Maria Rita Kehl do "Estadão" pelo que ela mesma denominou de "delito de opinião", por ter criticado em seu artigo semanal a desqualificação que se fazia do voto dos pobres nesta eleição, me encheu de esperanças de que talvez a era das nove famílias donas dos meios de comunicação do Brasil esteja mesmo chegando a seu ocaso.

Tudo bem. Sou meio otimista. Já vi um caso parecido com esse há anos atrás envolvendo o Veríssimo e a Zero Hora. Mas ele, que declarara voto ao PT ou a Lula, não me lembro mais, já era tão maior do que a Rede Brasil Sul de Comunicação que eles tiveram que continuar engolindo suas opiniões. Nada mudou muito. Mas foi um escândalo e tanto em Porto Alegre.

Mas os sinais desse ocaso dos barões da mídia já estavam evidentes nas últimas eleições presidenciais, em 2006, quando o Alkmin conseguiu chegar no segundo turno. Um correspondente espanhol, amigo meu, me chamou atenção para o fato de que ele nunca tinha visto uma situação em que a imprensa de um país simplesmente não tinha a menor conexão com a vontade e a opinião da maioria da população. Ele me deu a entender que lhe parecia que a mídia brasileira funcionava como um ente em separado de sua sociedade. Havia um fosso entre o que os colunistas e a maioria dos jornalistas publicava nos jornais e a opinião da população. Mas ele não falava da maioria esmagadora que não lia jornais. Falava das pessoas com quem ele convivia, com quem ele lidava fazendo seu trabalho, vivendo no Brasil.

Mas não se pode subestimar o poder dessa turma. Mais ou menos as mesmas famílias apoiaram o Golpe de 64, atemorizados com a "república sindicalista do Jango". Só não esperavam, junto com o Carlos Lacerda, que os milicos iam gostar de ficar no poder, não iam devolver o controle do Estado assim de mão beijada para eles, e até, que iam engrossar também com eles a partir de 68.

Mas tudo isso, afinal de contas começou antes. Quem leu o belo livro de memórias do Samuel Wainer sabe que o clima começou a ficar pesado com o Getúlio justamente porque o Banco do Brasil, sob sua batuta, ousou dar um empréstimo para aquele "judeuzinho metido" montar uma cadeia de jornais que tinha condições de competir com eles, pois embora mais simpática ao ex-ditador que voltou nos braços do povo, a cadeia de jornais "Última Hora" foi feita por um jornalista experiente, criativo, que levou ótimas cabeças para trabalhar com ele e, com isso, arrebatou leitores, ameaçando os latifúndios de opinião da época, entre eles os Mesquita e os Marinho.

Em suma, mexer com essa turma é complicado. Sempre foi. Eles jogam o jogo sujo de quem tem muitos privilégios a preservar. Tinham sempre ótimos contatos e contratos com o Estado. E devem ter perdido nos últimos anos. São efetivamente competentes no que fazem, mas de repente, quem diria, estão efetivamente ameaçados.

Sempre achei que era incompetência da esquerda brasileira não ter conseguido nunca implantar um jornal diário mais progressista. Ter essa crônica dificuldade de ter veículos de comunicação que não sejam meros "lisonjeadores de fatos", parafraseando o Balzac. Afinal, jornalismo sempre vai ser, "publicar algo que alguém não quer ver publicado, o resto é publicidade", como bem definiu George Orwell.

De qualquer modo temos grandes jornalistas e corajosos editores, como o Mino Carta, que sempre levam adiante essa idéia. Mas é muito pouco para um país como o nosso, não é?

Mas pensando bem, o jogo contra essas iniciativas sempre foi bem pesado. Tanto é que que os próprios jornalistas, apegados a seus empregos e visibilidades nos grandes meios de comunicação, nunca tenham sequer conseguido se organizar e se unir para apoiar um Conselho Nacional de Jornalistas e tenham perdido a validade de seus diplomas, em uma época em que até flanelinha anda conseguindo ter registro profissional em Brasília.

Felizmente, na era dos blogs e das redes sociais, as pessoas agora buscam se informar de outras formas. Iniciam movimentos para cancelar assinaturas, como já houve no Rio Grande do Sul, com o "Zero Fora", e como parece ter ocorrido em São Paulo recentemente com a "Falha de S. Paulo".

Mas realmente alguma coisa de muito séria deve estar ameaçando eles com a possível continuidade do governo Lula através da Dilma. Só assim, um jornal com a credibilidade que tinha o Estadão, sempre claramente conservador, mas com articulistas arejados... dá esse vexame! Enfim, eles estão ficando nus para a sociedade brasileira.

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Dom Demétrio e o desmonte de uma falácia

Reproduzo artigo de Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP), publicado no sítio da Adital:

A questão do aborto está sendo instrumentalizada para fins eleitorais. Esta situação precisa ser esclarecida e denunciada.

Está sendo usada uma questão que merece toda a atenção e isenção de ânimo para ser bem situada e assumida com responsabilidade, e que não pode ficar exposta a manobras eleitorais, amparadas em sofismas enganadores.

Nesta campanha eleitoral está havendo uma dupla falácia, que precisa ser desmontada.

Em primeiro lugar, se invoca a autoridade da CNBB para posições que não são da entidade, nem contam com o apoio dela, mas se apresentam como se fossem manifestações oficiais da CNBB.

Em segundo lugar, se invoca uma causa de valor indiscutível e fundamental, como é a questão da vida, e se faz desta causa um instrumento para acusar de abortistas os adversários políticos, que assim passam a ser condenados como se estivessem contra a vida e a favor do aborto.

Concretamente, para deixar mais clara a falácia, e para urgir o seu desmonte:

A Presidência do Regional Sul 1 da CNBB incorreu, no mínimo, em sério equívoco quando apoiou a manifestação de comissões diocesanas, que sinalizavam claramente que não era para votar nos candidatos do PT, em especial na candidata Dilma.

Ora, os Bispos do Regional já tinham manifestado oficialmente sua posição diante do processo eleitoral. Por que a Presidência do Regional precisava dar apoio a um documento cujo teor evidentemente não correspondia à tradição de imparcialidade da CNBB? Esta atitude da Presidência do Regional Sul 1 compromete a credibilidade da CNBB, se não contar com urgente esclarecimento, que não foi feito ainda, alertando sobre o uso eleitoral que está sendo feito deste documento assinado pelos três bispos da presidência do Regional.

Esta falácia ainda está produzindo conseqüências. Pois no próprio dia das eleições foram distribuídos nas igrejas, ao arrepio da Lei Eleitoral, milhares de folhetos com a nota do Regional Sul 1, como se fosse um texto patrocinado pela CNBB Nacional. E enquanto este equívoco não for desfeito, infelizmente a declaração da Presidência do Regional Sul 1 da CNBB continua à disposição da volúpia desonesta de quem a está explorando eleitoralmente. Prova deste fato lamentável é a fartura como está sendo impressa e distribuída.

Diante da gravidade deste fato, é bem vindo um esclarecedor pronunciamento da Presidência Nacional da CNBB, que honrará a tradição de prudência e de imparcialidade da instituição.

A outra falácia é mais sutil, e mais perversa. Consiste em arvorar-se em defensores da vida, para acusar de abortistas os adversários políticos, para assim impugná-los como candidatos, alegando que não podem receber o voto dos católicos.

Usam de artifício, para fazerem de uma causa justa o pretexto de propaganda política contra seus adversários, e o que é pior, invocando para isto a fé cristã e a Igreja Católica.

Mas esta falácia não pára aí. Existe nela uma clara posição ideológica, traduzida em opção política reacionária. Nunca relacionam o aborto com as políticas sociais que precisam ser empreendidas em favor da vida.

Votam, sem constrangimento, no sistema que produz a morte, e se declaram em favor da vida.

Em nome da fé, julgam-se no direito de condenar todos os que discordam de suas opções políticas. Pretendem revestir de honestidade, uma manobra que não consegue esconder seu intento eleitoral.

Diante desta situação, são importantes, e necessários, os esclarecimentos. Mais importante ainda é a vigilância do eleitor, que tem todo o direito de saber das coisas, também aquelas tramadas com astúcia e malícia.

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Marilena Chauí tritura a mídia golpista



Reproduzo entrevista concedida ao jornalista João Peres, publicada na Rede Brasil Atual:

Em entrevista exclusiva à Rede Brasil Atual, a professora de filosofia da USP aponta setores ruralistas e classe média urbana como focos de anti-Lula. Ela faz reiteradas críticas à ameaça à liberdade de expressão provocada pela concentração dos meios de comunicação.

Marilena Chauí pensa que a velha mídia está nos seus estertores. A filósofa e professora da Universidade de São Paulo (USP) entende que o surgimento da internet, o crescimento das alternativas e as atuais eleições delineiam o fim de um modelo.

A professora, que deixou de escrever e de falar para a velha mídia por não concordar com a postura de vários desses veículos, entende que a imprensa tem papel fundamental para a ausência de debate de temas-chave nas atuais eleições, alimentando questões que favorecem à candidatura de José Serra (PSDB).

Ela considera que não é possível falar de democracia quando se tem o poder da comunicação concentrado em poucas famílias, sem que a sociedade tenha a possibilidade de contestação. Após ato pró-Dilma Rousseff (PT), na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no centro da capital paulista, a filósofa manifestou à Rede Brasil Atual que os ruralistas e a classe média urbana são os setores que alimentam o ódio a Lula.

Marilena Chauí aponta, sempre em meio a muitos gestos e a uma fala enfática, que o presidente jamais será perdoado. O motivo? Combateu a desigualdade no país.

Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista:

O único ponto aparente de consenso entre os institutos de pesquisa é quanto à aprovação do governo Lula. Que grupos estão entre os 4% da população que consideram ruim ou péssimo o desempenho do presidente?

É um mistério para mim. Tudo que tenho ouvido, sobretudo no rádio, em entrevistas sobre os mais diversos temas, vai tudo muito bem. Os setores que eu imaginaria que diriam que o governo ruim não são. Surpreendentemente.

Mas há dois setores que são "pega pra capar". Um é evidentemente a agroindústria, mas é assim desde o primeiro governo Lula. Eles formam esse mundo ruralista que o DEM representa. Não são nem adversários, são inimigos. Inimigos de classe.

O segundo setor é a classe média urbana, que está apavorada com a diminuição da desigualdade social e que apostou todas suas fichas na ideia de ascensão social e de recusa de qualquer possibilidade de cair na classe trabalhadora. Ao ver o contrário, que a classe trabalhadora ascende socialmente e que há uma distribuição efetiva de renda, se apavorou porque perdeu seu próprio diferencial. E seu medo, que era de cair na classe trabalhadora, mudou. Foram invadidos pela classe trabalhadora.

Os trabalhadores têm reconquistado direitos e, com isso, setores do empresariado reclamam que há risco de perda de competitividade pelo mercado brasileiro.

Isso é uma conversa para a campanha eleitoral. É coisa da Folha, do Estadão, do Globo, da Veja, não é para levar a sério. E se você for lá e pedir para provar (que perderia competitividade), vão dizer que não falaram, que foi fruto das circunstâncias. Eles sabem que é uma piada isso que estão dizendo, não tem qualquer consistência.

A senhora passou por uma situação parecida à da psicanalista Maria Rita Kehl, agora dispensada pelo Estadão por ter elogiado o governo Lula...

Não foi parecida porque não fui demitida. Eu disse a eles que me recusava a escrever lá. Tanto no Estado quanto na Folha. Tomei a iniciativa de dizer a eles que não teriam minha colaboração.

Quando li o artigo da Maria Rita Kehl, pensei mesmo que poderia dar algum problema. Como é que o Estadão deixou o artigo sair? Era de se esperar que houvesse uma censura prévia.

Agora, se você tomar o que aconteceu nos últimos oito ou nove anos, vai ver que houve uma peneirada e uma parte das pessoas de esquerda simplesmente desistiu de qualquer relação com a mídia. Outras tiveram relação esporádica em momentos muito pontuais em que era preciso se expressar publicamente.

Houve, em um primeiro momento, um deslocamento das pessoas de esquerda para o Estadão, mas um deslocamento que não tinha como durar porque o jornal não tinha como abrigar esse tipo de pensamento.

Desapareceu para valer qualquer pretensão da mídia até mesmo de se oferecer sob uma perspectiva liberal. E sob uma perspectiva democrática. É formidável que no momento em que dizem que nós, do PT, ameaçamos a liberdade de imprensa, eles demitam a Maria Rita.

O que acho, com o segundo turno das eleições de Lula e as eleições da Dilma, é que há um estilo de mídia que está nos seus estertores. O fato de que haja internet e mídia alternativa que se espalha pelo Brasil inteiro muda completamente o padrão.

Passa-se de jornais que tinham função de noticiar para jornais que têm a função de opinar, o que é um contrassenso. A busca pela notícia faz com que não se vá mais em direção ao jornal, vá se buscar em outros lugares.

Em períodos eleitorais, tem sido recorrente a associação entre mídia e partidos políticos. Qual a implicação disso na tentativa de consolidação da democracia?

Isso é o que atrapalha a democracia do ponto de vista da liberdade do pensamento e de expressão. O que caracteriza uma sociedade democrática é o direito de produzir informação e de receber informação, de modo que possa circular, ser transformada. O que se tem é a ausência da informação, a manipulação da opinião e a mentira.

Acabo de ver em um site a resposta do Marco Aurélio Garcia (um dos coordenadores de campanha de Dilma) à manchete da Folha. Como é que a Folha dá manchete falando que Dilma vai tirar a questão do aborto do programa de governo se essa questão não está no programa? É dito qualquer coisa.

Desapareceu o compromisso mínimo com a verdade, o compromisso mínimo com a informação. É uma coisa de partido, puramente ideológica, perversa, de produção da mentira. Isso me lembra muito um ensaio que Hannah Arendt escreveu na época da Guerra do Vietnã. Ela comentava as mentiras que a TV, o rádio e os jornais apresentavam. Apresentavam a vitória no Vietnã, até o instante em que a mentira encontrou um limite tal nos próprios fatos que a verdade teve que aparecer. Ela chamou isso de crise da República, que é quando tem a mentira no lugar da informação. Ou seja, a desinformação. Isso não serve para a democracia.

O governo Lula teve, internamente, a convivência de polos opostos. Talvez tenha sido o primeiro a ter, por exemplo, Ministério de Desenvolvimento Agrário voltado a agricultura familiar e dialogando com o MST e o Ministério da Agricultura, voltado para o agronegócio. O governo e o presidente se saíram bem na tarefa de fazer opostos conviverem?

Sim. E isso é um talento peculiar que o presidente Lula tem, de ser um negociador nato. Como uma boa parte do trabalho do governo foi feita pela Casa Civil, podemos dizer que Dilma Rousseff tem a capacidade de fazer esse trânsito e essa negociação.

Mas como explicar as reações provocadas?

Duas coisas são muito importantes com relação ao atual governo. A primeira é que o governo Lula jamais será perdoado por ter enfrentado a questão da desigualdade social. Lula enfrentou a partir da própria figura dele. O fato de você ter um presidente operário, que tem o curso primário (Lula tem o ensino médio completo), significou a ruína da ideologia burguesa. Todos os critérios da ideologia burguesa para ocupar este posto (Presidência da República), que é ser da elite financeira, ter formação universitária, falar línguas estrangeiras, ter desempenho de gourmet... Enfim, foi descomposta uma série de atrativos que compõem a figura que a burguesia compôs para ocupar a Presidência. Ponto por ponto.

A burguesia brasileira e a classe média protofascista nunca vão perdoar isso ter acontecido. Imagine como eles se sentem. Houve (Nelson) Mandela, Lula, (Barack) Obama, (Hugo) Chávez. É muita coisa para a cabeça deles. É insuportável. É a sensação de fim de mundo.

Tudo que fosse possível fazer para destruir esse governo foi feito. Por que não caiu? Não caiu porque foi capaz de operar a negociação entre os polos contrários. Isso é uma novidade no caso do Brasil porque, normalmente, opera-se por exclusão. O que o governo fez foi operar por entendimento. E a possibilidade de corrigir uma coisa pela outra.

Agora, há milhares de problemas que o próximo governo vai ter de enfrentar. Não podemos cobrar de nós mesmos que façamos em oito ou em 16 anos o que não foi feito em 500. Mas quando se olha o que já foi feito, leva-se um susto. A redução da desigualdade, a inclusão no campo dos direitos de milhões de pessoas, o Luz para Todos, a casa (Minha Casa, Minha Vida), o Bolsa-Família, a (geração de empregos com) carteira assinada... É uma coisa nunca feita no Brasil.

A sra. faz uma avaliação muito positiva do governo. Por que essas medidas não ocorreram antes?

Alguém tinha de vir das classes trabalhadoras para dizer o que precisa fazer no Brasil. Os governos anteriores sequer levavam em conta que isso existia. O máximo que existia era o incômodo de ver essa gente pela rua, embaixo da ponte, fazendo greve, no ponto de ônibus, caindo pelas tabelas na condução pública. Era uma coisa assim que incomodava - (diziam:) "é meio feio, né? É antiestético". O máximo de reação que a presença de classes populares causava era por serem antiestéticos. É a primeira vez que essa classe foi levada a sério.

Eles vão estrebuchar, vão gritar, vão xingar. Vão pintar a saracura, como diria minha mãe. Mas é isso aí. Deixa pintar a saracura que nós ficamos em pé.

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Ficha falsa: da Folha ao poste na periferia

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

A ficha falsa da Dilma – publicada pela “Folha” na primeira página – chegou à periferia de São Paulo.

Uma leitora enviou-me as fotos que ela mesmo fez - com a ficha pregada nos pontos de ônibus da zona leste.

Anotem aí: essa é a próxima onda preparada pela campanha de Serra: a Dilma “guerrilheira”. A mídia (“Folha”, “Veja” e “Globo”) ajuda, mas o que vale mesmo é o corpo a corpo – na internet, na boataria que ganha as ruas.

Quando o PT começa a responder um boato, aparece outro. Sempre na defensiva, corre risco real de perder.

A campanha de Dilma demorou a perceber que o perigo – no primeiro turno – não vinha (só) da grande mídia. Mas da boataria conservadora, disseminada pelas igrejas.

A bala de prata não era uma só. Eram várias. E seguem fazendo efeito.

Se, em vez de consultar só pesquisas qualitativas e marqueteiros, a campanha do PT prestase atenção ao que está nos blogs, aqui na internet, teria reagido antes. Escrevi durante 3 semanas sobre a boataria religiosa. Dilma só reagiu a 3 dias da eleição.

Agora, apresentamos aqui as fichas nos postes da periferia. É terrorismo completo.

Quando a “Folha” fez o que fez (e isso depois de ter chamado ditadura de “ditabranda”), a Dilma reagiu – mas de forma moderada. Tinha que ter procesado o jornal e se recusado a receber a “Folha” em qualquer outro evento. Não o fez.

Não se brinca com a direita.

Há uma campanha muito bem montada para entregar o Brasil à direita. Campanha com um pé no Vaticano e outro nos EUA. A ela aderiu Serra – o sujeito que militou na esquerda na juventude.

A biografia de Serra pode-se resumir assim: da AP à TFP.

Mas a Dilma quer fazer campanha boazinha na TV. Devia é mostrar que a direita paulista – que domina a campanha de Serra – não gosta de nordestino. Tinha que mostrar isso na TV. E espalhar pela internet. Até porque é a pura verdade.

Do outro lado, está a maior máquina conservadora desde o golpe de 64.

Se Serra ganhar, com essa coalizão que está ao lado dele, teremos terra arrasada e um clima de conflagração no Brasil.

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Dilma, desmascare sem dó o Serra

Reproduzo artigo de Paulo Henrique Amorim, publicado no blog Conversa Afiada:

O programa do Serra no horário eleitoral deste sábado terminou com uma senhora paulistíssima, com jeitão de “amiga” da D. Ruth, a folhear um jornal e insinuar que a Dilma é responsável por tudo o que se atribui à Erenice.

A “amiga” da D. Ruth, portanto, substituiu a denúncia do aborto do programa da manhã.

Das duas, uma.

Ou as pesquisas de qualidade mostraram que o aborto era um tiro no pé.

Ou ele considera que o mal à Dilma já está feito.

Ele fixou a imagem de santarrão e, ela, de criminosa, cúmplice das aborteiras mais inescrupulosas.

O PiG desta manhã de domingo – tanto a Folha quanto o Estadão – anunciam que, nos debates, ele será o “Serrinha é do bem”.

Será o Serrinha santarrão, Tartufo, nas entradas ao vivo no horário eleitoral.

Mas, na hora de o trator passar por cima da cabeça da mãe, o Serra estará em off: virá no fim do horário eleitoral, colado ao programa da Dilma, ou, rotineiramente, o PiG usará o trator por ele.

O PiG se dedica, por ele mesmo, a desconstruir a Dilma.

E a Veja a procurar companheiras de cela da Dilma.

O Conversa Afiada diz isso porque recebeu a informação de que a Veja procurou uma companheira da Dilma de cela.

Só que ela mandou a Veja procurar a Dilma.

Na Veja que está nas bancas, vê-se que ela foi atrás de uma companheira da Dilma, a Tupamara.

Mas deu com os burros n’água, porque o desmentido à reportagem saiu antes de a Veja chegar às bancas.

Mas, a Veja ainda achará o torturador da Dilma, como a Folha achou que o homem trabalhava para os órgãos de repressão e fazia a campana da Dilma.

É uma divisão de trabalho.

O PiG faz o trabalho sujo e o Serra faz o trabalho limpo.

Essa estratégia é a de quem está numa situação de vida ou morte.

Serra dá as últimas braçadas de um afogado.

Ele fará qualquer coisa!

Ele não tem escrúpulos!

No dia 1º. de novembro ele vai ser líder de um partido minoritário, que definha a cada eleição: a UDN de São Paulo.

Ele tem que passar o trator agora.

E a Dilma tem que tirar as luvas.

Tem que responder aos ataques.

A campanha “economicista” já colou.

O Lula pendurou o FHC no pescoço do Serra.

Só que a guerra mudou de trincheira.

Foi para o aborto e a Erenice.

Para a destruição de caráter.

E o Serra, aí, é impune.

Ele pode fazer qualquer coisa, porque o PiG lhe dá refugio, o protege.

Uma primeira providência da Dilma seria, por exemplo, afastar as vozes do Bom Senso, os Moderados e Bem-Pensantes.

O Palocci, por exemplo, que quer ganhar a eleição e continuar a escrever para o Globo.

Ganhar sem sujar as mãos.

O Cardozo, por exemplo.

Ele quer ganhar a eleição sem brigar com ninguém, ir para o Supremo com o apoio do PiG, e ser convidado para jantar com o Daniel Dantas.

Esse é o pessoal “bonzinho” da Dilma.

Que faz qualquer negócio para sair nas paginas amarelas da Veja, dar uma entrevista à urubóloga Miriam Leitão na GloboNews.

Tem que fazer como a Marilena Chauí: não falar mais com o PiG.

Não fosse o precedente do Golpe do Ali Kamel em 2006, seria até uma boa ideia não ir ao debate da Globo.

O único púlpito da Dilma é o horário eleitoral.

E, nele, a Dilma tem que desmascarar o Serra, como recomendam o Mino e o Mauricio Dias na CartaCapital que está nas bancas.

Sobre Valores, e Ética, por exemplo.

Basta pedir à Monica Bérgamo para contar a história do filho que o Fernando Henrique – que bom pai! – levou quinze anos para reconhecer.

Sobre o aborto.

Ir ao site “Amigos do Presidente Lula” e mostrar que o Serra foi o único Ministro da Saúde que assinou portaria para realizar a aborto no âmbito do SUS.

Sobre “eu não mudo de idéia”, sou “coerente”.

Ir ao Conversa Afiada e exibir no horário eleitoral o vídeo em que ele diz ao Boris Casoy que cumprirá o mandato de prefeito e, se não cumprir, que ninguém nunca mais vote nele.

Pegar no Conversa Afiada o documento com o timbre da Folha em que ele diz que vai cumprir o mandato de prefeito até o fim.

A Dilma quebrou o sigilo da filha do Serra, coitadinha.

É só mostrar a reportagem do Leandro Fortes na CartaCapital: a filha do Serra e a irmã do Dantas quebraram 30 milhões de sigilos, numa empresinha que elas tinham.

Por falar nisso, Dilma.

Sem que o Cardozo e o Palocci saibam, detona a filha do Serra e a irmã do Dantas.

Exiba o documento do Governo da Florida que registra a empresa delas em Miami (em Miami!, Dilma, onde se localiza a maior lavanderia do mundo, depois do Banestado).

Quem trouxe a família para a campanha foi ele.

A mulher dele, tão simpática, especialmente de óculos de moldura vermelha.

Foi ela quem disse na Baixada Fluminense que você matava criancinhas.

Sobre a “democracia” e a defesa intransigente da “liberdade de imprensa”, mostre como ele agride jornalistas, especialmente jornalistas mulheres.

Como o Serra agasalhou um terreno que a Globo invadia há onze anos e transformou numa escola técnica para formar quadros para a Globo.

(O Palocci vai ficar nervosíssimo se você fizer isso!)

Reproduza o diálogo dele com o Heródoto Barbero, no Roda Morta, da TV Cultura, sobre pedágio.

E conte que, por causa disso, o Heródoto foi devidamente defenestrado.

Mostre os documentos que a Namaria publicou sobre as assinaturas da Veja, da Folha e do Estadão que ele comprou com o dinheiro do povo de São Paulo para distribuir às escolas.

Essa é a “imprensa livre” dele.

Serra vendeu o Brasil.

Contratar alguém com a voz grave do Celso Freitas e ler, um por um, o nome das empresas que ele vendeu com o FHC.

Ao lado, o logo da empresa.

Uma por uma.

E a frase do Delfim: eles venderam tudo e aumentaram a divida.

Qualquer dona de casa entende isso.

Sobre o “me formei” economista, que ele diz no programa dele.

Cadê o diploma dele, Dilma?

Faça o que a Dra. Cureau não fez: exija o diploma dele.

No Brasil, ele não pode dizer à Justiça Eleitoral – mostre a foto – que é economista, porque ele não tem diploma válido em território nacional.

Ele mente, Dilma.

Mostre o decreto dos genéricos.

Foi o Ministro da Saúde Jamil Haddad quem assinou e, não ele, que se atribui o titulo de “melhor Ministro da Saúde”.

(Quem disse isso foi o amigão dele, o Ministro serrista Nelson Jobim, o da babá eletrônica para agradar o Gilmar Dantas).

Melhor Ministro da Saúde, quem?

Não foi na gestão dele que compraram ambulâncias super-faturadas?

Cadê o Barjas Negri, Dilma?

O Abel, coitado, morreu, mas o Negri poderia dar um depoimento sobre as ambulâncias…

Peça àquele mesmo locutor para ler os votos do Serra contra o trabalhador na Constituinte.

Só votou contra o trabalhador.

O Conversa Afiada já publicou isso e o Artur Henrique da CUT sabe onde achar.

Vá atrás do passado dele.

Que história é essa de aparecer numa foto ao lado do Jango?

Ele fugiu, Dilma.

E diz em off: eu enfrentei os militares e a Dilma, cadê a Dilma?

Diga que enquanto ele fugia você era torturada.

Dilma, como é que um presidente da UNE – que comia criancinhas – vai ao comício do grande comedor de criancinhas – o Jango -, foge para o Chile do comededor de criancinhas, o Salvador Allende, casa com uma Allende, e depois, aparece nos Estados Unidos para “dar aula”?

Que história é essa?

Pergunta ao Gabeira se ele pode entrar nos Estados Unidos.

Por que o Serra entrou e ficou lá numa nice?

Vamos falar da Erenice, Dilma.

Fala do Engavetador Geral da Republica.

Do projeto Sivam.

Da pasta rosa.

Da compra da re-eleição.

Da privataria, como diz o Elio Gaspari.

Mostra aquele exemplar da CartaCapital que transcreve os diálogos do Fernando Henrique com o André Lara Resende: “vamos usar a bomba atômica”.

Do Mendonção com o Ricardo Sérgio de Oliveira: “isso vai dar m …”.

Aquele momento Péricles de Atenas do Governo FHC.

Mostra aquelas fotos do Serra com o martelo dos leilões da privatização, a beijar a Helena de Tróia.

Pede ao Nassif para resumir o livro dele “Cabeças de Planilha”.

Ele conta como o FHC fixou o Real na entrada do Plano, e beneficiou o André e os clientes dele.

(O André jamais processou o Nassif.)

Pede ao Malan para contar que o Serra boicotou o Plano Real e tentou derrubar o Malan.

Dilma, você já percebeu – está no Estadão de hoje, na página 2 – que o Malan defende o FHC, mas não apóia o Serra?

Por que será, hein?

Vamos falar do Ricardo Sergio, Dilma?

Ele foi o chefe da campanha do FHC e do Serra.

Pergunta ao Benjamin Steinbruch quem é o Ricardo Sergio.

Pergunta à família do Antonio Ermírio de Moraes.

E o Preciado?

Lembra do Preciado?

Aquele da privatização do Banespa e da Ilha do Urubu, que o Emiliano José e o Leandro Fortes descreveram tão bem.

Quem entende muito de Preciado é o Fernando Rodrigues, da Folha.

É só mandar buscar as reportagens dele, quando o rabo da Folha ainda não estava preso.

O Amaury Ribeiro preferiu esperar as eleições para lançar o livro dele.

Mas, o Conversa Afiada já divulgou o prefacio do livro do Amaury, o que provocou um “alopramento” generalizado na campanha do Serra.

Ali há informações preciosas (sem trocadilho).

Dilma como é que um homem público, que passou a vida toda com salário de parlamentar, governador e “professor” comprou aquela casinha em que vive?

A casa é dele, Dilma?

Está no Imposto de Renda? Por quanto?

Se ele vier de “mensalão”, devolva com “mensalão tucano de Minas”, Eduardo Azeredo e o “valerioduto” cheio de dinheiro do Dantas (o Palocci e o Cardozo não podem ouvir falar nisso).

Dilma, você já ouviu falar no Flavio Bierrembach?

O Flavio é um homem honrado.

Ele era candidato a deputado com o Serra e acusou o Serra de ladrão.

O Serra foi para cima dele.

Por azar, a ação caiu na mão do Juiz Walter Maierovitch.

Maierovitch chamou o Bierrembach às falas: que historia é essa de chamar alguém de ladrão, sem provas?

O Bierrembach pediu “exceção da verdade” – ou seja, quero provar o que digo.

Maierovitch imediatamente deu ao Bierrembach o direito de provar o que dizia.

Dilma, sabe o que o Serra fez?

Engavetou a ação.

Chama o Bierrembach para contar essa história.

Chama o Maierovitch – e só ligar para a Mara, secretária do Mino, na CartaCapital, que a Mara acha o Maierovitch rapidinho.

E põe uma claquete assim: “O Serra não deixou a Justiça provar que ele não é ladrão”.

Querer ganhar eleição do Serra com o IBGE não basta.

Ele faz e diz qualquer coisa!

Dilma, e o telefonema do Serra para o Gilmar Dantas?

Mostra aquela foto dele no auditório e o voto do Gilmar no dia seguinte.

Esses dois, Dilma, fazem qualquer coisa.

E trate de ganhar a eleição com bastante folga.

Porque essa urna eletrônica sem o papelzinho do Brizola é um convite à fraude.

E se for para o tapetão, o Marco Aurélio de Mello está lá e o Gilmar fica na reserva.

Um perigo!

Sobre o massacre do PiG contra a Petrobrás, para impedir que você use a Petrobrás na campanha.

Dilma, você conhece a história do John Kerry?

O John Kerry combateu no Vietnã e foi condecorado três vezes.

Ele tem a “Purple Heart”, a medalha de que os americanos mais se orgulham.

Ele dirigia missões de destreza e rapidez, nuns barquinhos, os Swifts, com poucos companheiros a bordo.

Uma espécie de SWAT.

Em diferentes ações, Kerry foi ferido, matou um vietcong que o tinha atacado e salvou a vida de subordinados.

Ele foi candidato à Presidência contra o Bush, na segunda vez.

Bush fazia nos debates o “Bushinho paz e amor”.

Bush era “do bem”.

Como “Serra é do bem”.

Mas, por trás, veio o trator – cheio de grana.

Criou-se um grupo auto-intitulado de “Veteranos dos Swift em Busca da Verdade”.

Eles produziram um documentário – com dinheiro de quem, Dilma? – para demonstrar que Kerry não podia ser presidente.

Porque ele mentiu sobre o seu papel no Vietnã.

Que ele não merecia nenhuma daquelas medalhas.

Era um líder inepto.

E, no fundo, no fundo, um covarde.

Os “amigos do presidente Serra” compraram horário nas televisões do interior para exibir o documentário.

(Lá não tem horário eleitoral gratuito.)

Como Kerry tinha dito, ao sentar praça, que era contra a Guerra do Vietnã, ele foi estigmatizado pelos “Veteranos dos Swift”: um Traidor da Pátria, um Vendilhão da Pátria.

Veja bem, Dilma, três medalhas por bravura!

E passou a campanha sem poder invocar seu passado heróico.

O Serra é assim também: capaz de tudo.

O bye-bye Serra forever não se dará mais com a Economia.

Não basta pendurar o FHC no pescoço do Serra.

O Serra levou o jogo para o campo dele – a vala negra.

O da calhordice, como diz o Ciro, um especialista na alma do Serra.

Neste momento, essa história de não “baixar o nível” só funcionaria em eleição para Madre Superiora.

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Declaração de voto de eleitor do Serra

Reproduzo um texto irônico publicado no blog do jornalista Luis Nassif:

Desculpem amigos, vou votar no Serra. “Cansei… Basta”! Vou votar no Serra, do PSDB.

Cansei de ir ao supermercado e encontrá-lo cheio. O alimento está barato demais. O salário dos pobres aumentou, e qualquer um agora se mete a comprar, carne, queijo, presunto, hambúrguer e iogurte.

Cansei dos bares e restaurantes lotados nos fins de semana. Se sobra algum, a gentalha toda vai para a noite. Cansei dessa demagogia.

Cansei de ir em Shopping e ver a pobreza comprando e desfilando com seus celulares.

O governo reduziu os impostos para os computadores. A Internet virou coisa de qualquer um. Pode? Até o filho da manicure, pedreiro, catador de papel, agora navega…

Cansei dos estacionamentos sem vaga. Com essa coisa de juro a juro baixo, todo mundo tem carro, até a minha empregada. ”É uma vergonha!“, como dizia o Boris Casoy. Com o Serra os congestionamentos vão acabar, porque como em S.Paulo, vai instalar postos de pedágio nas estradas brasileiras a cada 35 km e cobrar caro.

Cansei da moda banalizada. Agora, qualquer um pode botar uma confecção. Tem até crédito oferecido pelo governo. O que era exclusivo da Oscar Freire, agora, se vende até no camelô da 25 de Março e no Braz.

Vergonha, vergonha, vergonha…

Cansei de ir em banco e ver aquela fila de idosos no Caixa Preferencial, todos trabalhando de office-boys.

Cansei dessa coisa de biodiesel, de agricultura familiar. O caseiro do meu sítio agora virou “empreendedor” no Nordeste. Pode? Cansei dessa coisa assistencialista de Bolsa Família. Esse dinheiro poderia ser utilizado para abater a dívida dos empresários de comunicação (Globo, SBT, Band, RedeTV, CNT, Fôlha SP, Estadão, etc.). A coitada da “Veja” passando dificuldade e esse governo alimentando gabiru em Pernambuco. É o fim do mundo.

Cansei dessa história de PROUNI, que botou esses tipinhos, sem berço, na universidade. Até índio, agora, vira médico e advogado. É um desrespeito… Meus filhos, que foram bem criados, precisam conviver e competir com essa raça.

Cansei dessa história de Luz para Todos. Os capiaus, agora, vão assistir TV até tarde. E, lógico, vão acordar ao meio-dia. Quem vai cuidar da lavoura do Brasil? Diga aí, seu Lula…

Cansei dessa história de facilitar a construção e a compra da casa própria (73% da população, hoje, tem casa própria, segundo pesquisas recentes do IBGE). E os coitados que vivem de cobrar aluguéis? O que será deles?

Cansei dessa palhaçada da desvalorização do dólar. Agora, qualquer um tem MP3, celular e câmera digital. Qualquer umazinha, aqui do prédio, vai passar férias no exterior. É o fim…

Vou votar no Serra. Cansei, vou votar no Serra, porque quero de volta as emoções fortes do governo de FHC, quero investir no dólar em disparada e aproveitar a inflação. Investir em ações de estatais quase de graça e vender com altos lucros.

Chega dessa baboseria politicamente correta, dessa hipocrisia de cooperação. O motor da vida é a disputa, o risco… Quem pode, pode, quem não pode, se sacode. Tenho culpa eu, se meu pai era mais esperto que os outros para ganhar dinheiro comprando ações de estatais quase de graça? Eles que vão trabalhar, vagabundos, porque no capitalismo vence quem tem mais competência. É o único jeito de organizar a sociedade, de mostrar quem é superior e quem é inferior.

Eu ia anular, mas cansei. Basta! Vou votar no Serra. Quero ver essa gentalha no lugar que lhe é devido. “Quero minha felicidade de volta.” Estou com muito medo. Chega! Assim está Dilmais.

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O aborto da "revista" Veja




Reproduzo artigo de André Lux, publicado no blog "Tudo em cima":

Que a revista Veja não passa de um panfleto da extrema direita tupiniquim, atualmente a serviço da campanha de José Serra, ninguém tem mais dúvida. Por isso não vou chover no molhado. Com o advento da internet e o surgimento da blogosfera progressista, as mentiras, os factóides e a hipocrisia de Veja passaram a ser desmascaradas em questão de dias, depois horas e agora... minutos!

A galera do twitter estava de olho esperando o que o pasquim dos Civita ia aprontar contra Dilma e... bingo: aborto! O objetivo é claro, mostrar que Dilma é "do mal", a favor de "matar criancinhas", além de mentirosa e incoerente.

Mas é mais um tiro no pé. Bastou Veja divulgar a capa "bombástica" que alguém pesquisou e achou outra capa da mesma revista, de setembro de 1997, que trazia uma matéria séria sobre o tema, amplamente favorável à liberação do aborto, com confissões abertas inclusive feitas por celebridades! Confira:


"Nós fizemos aborto"

Mulheres de três gerações enfrentam a lei, o medo e o preconceito e revelam suas experiências

- Andréa Barros, Angélica Santa Cruz e Neuza Sanches

Elas resolveram falar. Quebrando o muro de silêncio que sempre cercou o aborto, oito dezenas de mulheres procuradas por Veja decidiram contar como aconteceu, quando, por quê. Falaram atrizes, cantoras, intelectuais mas também operárias, domésticas, donas de casa. Falaram de angústia, de culpa, de dor e de solidão. Também falaram de clínicas mal equipadas, de médicos sem escrúpulos, de enfermeiras sem preparo, de maridos e namorados ausentes. A apresentadora Hebe Camargo contou que, quando era uma jovem de 18 anos, ficou grávida do primeiro namorado e foi parar nas mãos de uma curiosa que fez a cirurgia sem anestesia nem cuidado. A atriz Aracy Balabanian, a Cassandra do Sai de Baixo, ficou grávida quando estava chegando aos 40 anos e dando fim a um longo relacionamento. Resolveu fazer o aborto, convencida de que a criança não teria um bom pai nem ela seria capaz de criá-la sozinha. Metalúrgica da Força Sindical, a mineira Nair Goulart, 45 anos, fez dois abortos nos anos 70 por motivos econômicos. Ela e o marido, também operário, ganhavam pouco, viviam num quarto de despejo e não teriam meios de educar nenhum filho.

Quando o Congresso brasileiro debate a regulamentação de uma legislação que autoriza a realização de aborto apenas em caso de estupro e de risco de vida para a mãe como está previsto no Código Penal desde 1940 , a disposição das mulheres que falaram a Veja não é apenas oportuna, mas também corajosa. Embora o 1º Tribunal do Júri de São Paulo, o maior do país, já tenha completado mais de uma década sem condenar nenhuma mulher em função do aborto, a legislação estabelece para esses casos penas que vão de um a três anos de prisão. E a maioria delas não fez aborto pelos motivos previstos em lei, mas porque, cada uma em seu momento, cada uma com sua história pessoal, considerou as circunstâncias e concluiu que interromper a gravidez era uma saída menos dolorosa do que ter um filho que não poderia criar".



A reportagem continua no link da revista. Ah, outra coisa importante: a blogosfera também desencavou uma reportagem da revista TRIP de nº 41, na qual Soninha Francine declarou que já tinha feito aborto e que era favorável à descriminalização.

Detalhe: Soninha, ex-esquerdista e atual neocon renascida, é uma das coordenadoras de campanha de José Serra (PSDB). Ela é cotada para ser Ministra de Serra, se ele vencesse, e atua na campanha sobretudo na internet. E é pela internet, através de emails em massa, que partidários de Serra espalham a campanha de ódio e difamação contra Dilma.

Se não me engano, a denúncia foi feita pelo blog Os Amigos do Presidente Lula, que fez questão de comentar: "Nós não somos como eles, e não vamos apedrejar Soninha. O próprio cristianismo ensina que, quem não tiver pecados, que atire a primeira pedra. Vamos só denunciar essa hipocrisia, essa má-fé, o falso testemunho, e esse uso do nome do Senhor em vão, com fins eleitoreiros, pelos partidários de José Serra."

E agora, José Serra? Será que sua esposinha vai sair por aí gritando aos quatro ventos que a Hebe Camargo e Soninha gostam de "matar criancinhas"? Quem viver, verá...

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Charges de Latuff detonam Serra







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PT, marketing político e guerra assimétrica

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

O grande mito da eleição de 2010 no Brasil, até agora, é de que a internet não influiu no resultado. A decisão dos eleitores seria tomada a partir do horário gratuito na TV e dos debates. Discordo. Acho que a eleição foi para o segundo turno por causa da internet.

Vi duas coisas na paradigmática disputa entre Barack Obama e John McCain nos Estados Unidos:

1. O potencial da internet para disseminar mentiras e calúnias por e-mail e nas redes sociais;

2. O potencial do YouTube para criar ondas positivas (Obama girl) e negativas (vídeos “exclusivos”, “bombásticos”, “escondidos pela mídia” etc.)

Não é possível dissociar a rede do contexto em que ela existe: nos Estados Unidos, naquela eleição, os grandes grupos de mídia ainda estavam engatinhando na rede e seu conteúdo ainda era produzido majoritariamente para as plataformas tradicionais (jornal impresso, emissoras de TV, etc).

Brilhou a internet para as táticas de guerrilha virtual.

Com duas diferenças em relação ao que vemos no Brasil, agora.

Nos Estados Unidos, a infraestrutura da banda larga tornava o acesso praticamente universal. Os vídeos rodavam nas casas de todos os eleitores.

No Brasil isso não é fato. O alcance da rede é menor.

Ah, mas existe uma grande diferença no Brasil: as lanhouses. Na periferia das grandes cidades, as lanhouses são mais que lugares para frequentar a internet. São clubes. Onde os jovens se reúnem, jogam uns contra os outros, checam o e-mail e assistem ao vídeos no You Tube. Uns chamam a atenção dos outros para as notícias que recebem. Quanto mais tosco o vídeo ou mais “bombástica” a informação — verdadeira ou mentirosa –, melhor. É assim que os boatos se espalham como fogo, através dos jovens.

A desconexão que eles sentem em relação aos governos, o ímpeto próprio da juventude, a volatilidade de opiniões, o desejo de subverter a ordem — tudo isso conta.

Para muitos destes eleitores, não pesa a “credibilidade” da Folha, que eles não assinam. Pesa a credibilidade dos amigos e parentes nos quais as mensagens se originam. É credibilidade por associação a alguém confiável.

O movimento que levou Marina Silva para o segundo turno teve um componente disso. E foi a internet que deu consistência à expressão dele em diferentes regiões do país e especialmente nas regiões metropolitanas.

Quantos comícios Marina fez presencialmente nos lugares em que foi mais votada?

Para além disso, temos outra grande diferença em relação aos Estados Unidos, que é a diferença de renda.

A elite é identificada não apenas por um padrão de consumo, mas estético.

A estética da elite está presente nas campanhas de Dilma Rousseff e José Serra. São formulações distantes, de centros de poder imaginário (Brasília, São Paulo) na cabeça dos jovens, emitidas por meios eletrônicos (TV, internet).

Daí a importância residual, no Brasil, dos panfletos.

A concretude física lhes confere credibilidade.

A palavra escrita, os desenhos e as charges tem um impacto simbólico que não deve ser desprezado. São a linguagem “do povo”, em anteposição à imagem limpa das superproduções, associada à elite.

O PT, o PMDB e os movimentos sociais dispõem de uma esmagadora vantagem sobre o PSDB/DEM neste campo.

Militância e capilaridade. Juntos, chegam a todos os pontos do Brasil.

Uma vantagem que pode ser decisiva numa eleição apertada.

Mas a vantagem só poderá ser explorada se passos forem dados para superar o abismo que existe entre os de cima (marqueteiros e pesquiseiros) e os de baixo (militantes e eleitores).

A proximidade física entre os militantes e os eleitores (de parentesco, de vizinhança, de bar, de fábrica ou comércio) conta muito nessa hora.

Para os que são de muita informação, informação.

Para os que são de pouca informação, mensagens simbólicas que contenham toda a informação.

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Frei Betto: Dilma e a fé cristã

Reproduzo artigo de Frei Betto, publicado na coluna "Tendências/Debates" da Folha:

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência. Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia".

Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória - diria, terrorista - acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios evangélicos. Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade.

Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos", como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam. Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto...

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

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Serra é do mal, representa o atraso

Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, intitulado "Dois Brasis" e publicado no seu blog no sítio Carta Maior:

O Brasil é um só, mas disputado por dois projetos antagônicos.

Um é o da paralisia econômica, do gigantesco endividamento interno, das dívidas e da submissão ao FMI. O Brasil que foi quebrado três vezes durante o governo FHC-Serra – em 1995, 1997 e 1998 – e quase levaram o país à falência, deixando uma recessão prolongada que só foi superada no governo Lula. O Brasil da carga tributária que subiu de 27 a 35%, dos apagões e do sucateamento da infraestrutura.

Aquele Brasil da privataria, que torrou nossas empresas públicas por 100 bilhões de dólares e ainda assim dobrou o endividamento público. O Brasil que mudou o nome da Petrobras para Petrobax, como caminho para privatizá-la e que tem os olhos postos no Pré-Sal, para oferecê-lo às grandes empresas privadas internacionais. É o Brazil do FHC e do Serra, da velha mídia, vinculada aos grandes interesses privados, que tinham se acostumado a dispor do Estado brasileiro a seu bel prazer.

Um Brasil que incrementou a desigualdade, desmontou o Estado, perseguiu os servidores públicos, se submeteu subservientemente aos EUA na política externa. Fez com que a maioria dos trabalhadores brasileiros ficassem submetido à total precariedade, sem carteira nem contrato de trabalho. Um Brasil do colapso das universidades públicas e da proibição da criação de escolas técnicas.

O outro Brasil é o que começou a despontar a partir das ruínas herdadas do governo FHC-Serra. Um Brasil que montou um modelo econômico de desenvolvimento com distribuição de renda. Um Brasil que remontou o Estado e sua capacidade de induzir a expansão econômica e garantir os direitos sociais. Um Brasil que tornou funcionais e virtuosos o crescimento e a distribuição de renda.

Um Brasil do bem, que elevou a auto-estima dos brasileiros, quando os governantes anteriores – Collor, FHC – só jogavam o país e os brasileiros para baixo. Tirou milhões de brasileiros da miséria, propiciando o acesso a bens básicos a grande parte dos brasileiros, excluídos pelas políticas de mercado.

Serra é da Corrente do Mal, que só destrói, que criou três crises durante o governo FHC, que quase destruiu o Brasil e agora quer quer brecar o caminho pelo qual o Brasil avança.

Lula e Dilma são os responsáveis principais por essa estratégia. A derrota da direita e a eleição da Dilma gera as melhores condições para que avancemos no caminho da construção de um Brasil justo, solidário e soberano.

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A falta que faz um jornal popular

Reproduzo artigo de Beto Almeida, publicado no sítio Pátria Latina:

A demissão da psicanalista Maria Rita Kell do corpo de colaboradores do Jornal “O Estado de São Paulo” reacende a incontornável discussão sobre a ausência de pluralismo na imprensa brasileira de grande circulação, em clara ofensa ao disposto no capítulo da Comunicação Social da Constituição Federal. Kell afirma ter sido demitida por “delito de opinião” após ter escrito artigo em que denuncia o esforço de desqualificação dos votos das camadas mais pobres da população.

Até mesmo argumentos utilizados na eleição passada pelo conhecido sociólogo Hélio Jaguaribe indicando que os votos que elegeram Lula possuíam um significado inferior em relação aos votos do candidato derrotado, estes sim, e só estes, como que por encanto, dotados de uma dimensão de nação, constavam do artigo que causou a demissão.

Por desdobramento, o presidente Lula que promoveu recuperação significativa do salário mínimo, expandiu a classe média, reduziu robustamente os milhões de famintos, recupera a Petrobrás e a indústria naval, sob reconhecimento internacional expressivo, não teria sido eleito - segundo esta teoria esdrúxula - por votos com plena legitimidade.

Democracia X “democracia”

Mais surpreendente do que ver quem se encontra entre os insinuadores de tal interpretação que, por paralelo, remonta aos critérios da eleição a “bico de pena”, é a assustadora complementaridade e identidade que estes conceitos possuem com a nova “teoria da democracia” exalada pela Casa Branca, segundo a qual, não basta que um governo seja eleito pelo voto democrático para conferir-lhe legitimidade. Para o novo critério de democracia que vem do norte, depende de como estes governos eleitos governem ou qual concepção de democracia apliquem para serem, em definitivo, considerados ou não democráticos.

Os exemplos estão por aí. Se um governo decide assumir plena soberania sobre o seu território, como o governo do Equador, que recuperou o controle sobre a Base Militar de Manta, antes administrada por contingentes norte-americanos, este comportamento não permite que lhe seja conferido o rótulo de democrático. Ou quando um governo eleito democraticamente pelo voto direto - o que não ocorre nos EUA - decide nacionalizar suas fontes de recursos naturais, como o faz o governo da Bolívia, isso também configuraria comportamento não democrático, coincidentemente, por contrariar os interesses vitais de empresas norte-americanas em várias partes do mundo.

O modelo de representação política dos EUA, mesmo com históricos altos graus de abstenção, de cadastros eleitorais em que se fazem assepsia dos eleitores negros, pobres, asiáticos e ex-presidiários, da bilionária dependência de esquemas financeiros para que alguém seja candidato e do impenetrável controle de uma mídia dominada por anunciantes vinculados à indústria bélica, nada disso pode ser questionado do ponto de vista democrático. Nem mesmo o histórico de vinculações da Casa Branca na supressão dos regimes democráticos em várias partes do mundo ao longo de décadas. Lá sim, existiria o modelo de democracia.

O voto de pobre vale menos?

A psicanalista Maria Rita Kell ousou revelar murmúrios indignados que podem estar povoando os ambientes das oligarquias midiáticas diante da impossibilidade de impedir que herdeiros de ex-escravos possam exercer seu direito a voto. Sobretudo depois de estarem gradativamente recuperando o seu direito de trabalhar com carteira assinada, de serem reconhecidos pelo estado por meio de um programa social que lhes retira e aos seus filhos do corredor da pena de morte pela fome.

O Brasil acaba de ser reconhecido pela FAO com um dos países que mais contribuem na atualidade para a redução da fome. Mas, do lado de cá, sociólogos, um tanto envergonhados é bem verdade, querem insinuar que os votos destes que escapam da pena de morte da fome não teriam legitimidade. E quem revela este pensamento merece a pura e simples sentença da demissão. Decidida no mesmo ambiente em que floresceu e germinou com desenvoltura a discricionária e cruel idéia de um ex-diretor do jornal mencionado, que sentiu-se no direito de matar uma jovem jornalista porque, afinal, ela teria cometido a gravíssima falta de pretender.....terminar o namoro.

Monteiro Lobato desprezado

Quando o senador Suplicy sobe à tribuna e solicita à direção do centenário jornal que reverta a demissão de Kell - que para nossa sorte não corre risco de vida e poderá nos iluminar com novas análises corajosas se encontrar espaços de publicação - embora bem intencionado, pode ser que não conheça episódio marcante da história deste diário. Décadas atrás, o escritor Monteiro Lobato, aflito com a incultura e particularmente com contingente de iletrados, solicita aos donos deste diário que o veículo fosse utilizado de modo militante e compromissado na luta para vencer o vergonhoso quadro de milhões e milhões de analfabetos no país.

Após muito pensar, um dos proprietários responde ao criador do Sítio do Pica-pau Amarelo, provavelmente com o mesmo tom com que hoje condenam o voto dos pobres a uma espécie de sub-voto: “Ô Lobato, mas se todo mundo aprender a ler...quem é que vai pegar no cabo da enxada?”. A proposta de Monteiro Lobato foi recusada. O pluralismo da psicanalista Kell, condenado. Veremos o que ocorrerá com relação à solicitação do senador...

Apesar da evidente ausência de pluralismo na mídia brasileira, de sua crônica incapacidade para cumprir minimamente a Constituição Federal, do indevassável controle de algumas poucas famílias sobre a indústria da informação no Brasil, ainda assim, há gente que se preocupa não com este controle já existente do mercado cartelizado sobre os veículos de comunicação, mas com uma mera proposta de regulamentação da Constituição, colocando-a em sintonia com a tendência mundial que registra regulação crescente da comunicação como único caminho para assegurar-lhe pluralismo, diversidade, bem como caráter educativo, civilizatório e informativo nos seus conteúdos.

Comunicação é estratégica

O problema , no entanto, é que anos e anos de alerta e argumentação junto aos segmentos progressistas para que considerem a comunicação como algo estratégico, parece surtir pouco efeito organizativo. Só eventualmente, em momentos decisivos da política, este debate retorna ao cenário central da conjuntura, mas , quase sempre, limitado à reclamação indignada que, embora justa, termina por não colocar na mesa das iniciativas centrais das políticas progressistas, a necessidade de se construir alternativas concretas.

Publicaram que o Brasil não tinha petróleo

Tantas vezes muitos de nós já escrevemos e reiteramos aqui mesmo e em outras tribunas sobre o que representou o Jornal Última Hora, criado sob estímulo de Vargas, ele mesmo alvo de intensa campanha de desmoralização e destruição de imagem, na época intitulada “mar de lama”. Com a imensa popularidade que possuía, seja por ter criado a Petrobrás, o salário mínimo, os direitos trabalhistas, a licença maternidade, a siderúrgica de Volta Redonda, a Rádio Nacional, a Rádio Mauá, o Instituto Nacional do Cinema Educativo, o BNDES, etc, Vargas percebia que se dependesse da imprensa da época, o Brasil nunca teria petróleo, o salário mínimo e os direitos trabalhistas não passavam de privilégios descabidos, que a única linha editorial verdadeira e aceitável era a deposição do presidente.

Ou seja, será que magnatas da comunicação que chegaram ao ponto de bradar que o Brasil não possuía petróleo, podem ser sensibilizados e corrigir-se? O argumento ainda é válido para hoje. Como disse Giordano Bruno quando as fogueiras da Inquisição estavam sendo acesas “Que ingenuidade a minha, pedir ao poder para reformar o poder”

Hora de recriar um jornal popular

Será que as forças progressistas não devem pretender construir seus próprios meios de comunicação? Assim como o PT já revisou grande parte dos preconceitos que tinha contra Vargas e também quanto à política de alianças, não terá também chegada a hora de revisar uma linha política segundo a qual jornais de partido ou de segmentos não se justificam mais na política moderna e que o recomendável é a interlocução por meio da própria mídia dos grandes capitalistas?

A julgar pelo tom indignado e os exemplos que o presidente Lula apresenta contra a manipulação desinformativa sobre a sua gestão e sobre sua candidata, talvez tenha chegado o momento de se usar o imenso capital de popularidade para organização de um jornal popular, nacionalista, de circulação diária, massiva.

E, além disso, amparado em uma Fundação para o Jornalismo Público, dotada de uma faculdade capaz de gerar uma nova linguagem jornalística, para abrir uma nova cultura de jornalismo condizente com os novos tempos vividos pelo país. Um tempo em que milhões e milhões saem dos grotões físicos e sociais, iniciam-se no exercício de certos direitos e no consumo de bens indispensáveis, mas não dispõem ainda do direito de ler um jornal que retrate a marcha das mudanças que o Brasil está experimentando e da própria mudança que suas vidas vem registrando, sob o ponto de vista civilizatório.

Sinais de mudança no jornalismo no mundo

Basta que olhemos com mais atenção o mundo. Registra-se tendência de regulação no campo das comunicações para assegurar a diversidade, a pluralidade, o humanismo e o padrão civilizatório desta indústria. E se olharmos mais em volta de nós, perceberíamos vários países com um grau de pluralismo jornalístico invejável diante do monolitismo estreito e hostil às mudanças que vivenciamos na sociedade brasileira.

Na Argentina, há o jornal “Página 12”; no México , há o diário “La Jornada”; na Bolívia, o jornal “Cambio” ainda não completou um ano de vida, mas já é o recordista de vendagem, junto com o tradicional “La Razón”, que tem 70 anos de vida e, por fim, nasceu o “Correo del Orinoco”, do qual foi redator o brasileiro Abreu e Lima, que lutou junto a Bolívar na Independência frente ao imperialismo espanhol.

Toda vez que nos indignarmos com os fartos e incorrigíveis exemplos de jornalismo precário da imprensa brasileiro, será que não deveríamos também, para além da crítica, nos perguntar sinceramente por que não criamos o nosso próprio jornal popular? Não seria essa a crítica mais conseqüente a esta torrente de facciosismo que estamos a enfrentar? Na história do Jornal Última Hora está uma parte das respostas.

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Serra, o governo dos nossos pesadelos

Reproduzo editorial do jornal Brasil de Fato:

Concluído o primeiro turno do processo eleitoral, há inúmeras análises políticas que buscam interpretar o resultado das urnas e vislumbrar, de imediato, sinais dos possíveis resultados do segundo turno que será realizado dia 31. Junto com tantas outras análises que surgirão, o trabalho dos marqueteiros dos partidos políticos, que estão na disputa, a busca de alianças com os partidos derrotados e as mudanças no que insistem em denominar de programa de governo, na tentativa de agradar o senso comum, irão predominar nos espaços noticiosos até o último dia deste mês.

A campanha eleitoral ficou polarizada entre candidata do PT, Dilma Roussef, e o candidato tucano José Serra. O resultado eleitoral, ainda por motivos não totalmente decifráveis, desfez essa polarização com os quase 20 milhões de votos que obteve a candidata Marina da Silva do PV. Assim, não se concretizou a vitória da candidata do governo Lula no primeiro turno, como era a expectativa.

É possível que o fracasso da eleição plebiscitária – polarização entre o governo FHC e o governo Lula – se deva aos ataques e manipulações de baixo nível protagonizadas pela mídia burguesa, pela sórdida campanha realizada pelos setores religiosos mais conservadores das igrejas Católica e Evangélicas à candidatura de Dilma.

Mas também não é possível ignorar que uma parcela significativa dos eleitores se sentiu decepcionada com a despolitização da campanha, que se propunha a confrontar com o governo neoliberal dos tucanos. Denunciar os descalabros que sãos os 16 anos de administração tucana, em São Paulo, ficou ausente da campanha. A corrupção acobertada pelo domínio sobre as assembleias legislativas, sobre os tribunais de contas, setores do poder judiciário e a completa subordinação da mídia aos seus interesses asseguram a impunidade dos governo tucanos e vicejam lideranças políticas sem nenhum compromisso com a ética e com a verdade.

Deixar as bandeiras históricas da classe trabalhadora aos candidatos sem chances de vitória eleitoral foi um erro da candidata petista. Militantes sociais, mesmos decepcionados com o governo Lula, mas cientes do que significa uma vitória tucana, sentiram-se órfãos nesta campanha. Estavam sem porta-vozes das bandeiras das lutas populares, e os discursos bem elaborados, nos gabinetes acadêmicos, não os seduziram.

Lastimável foi também a atuação das autoridades eleitorais nesse processo. A história há de registrar a participação ativa da controvertida vice-procuradora-geral eleitoral, doutora Sandra Cureau. Sua tentativa de cercear a revista Carta Capital, por não estar subordinada aos interesses do candidato tucano, e a resposta do editor da publicação semanal, Mino Carta, estarão registrados tanto nas escolas de jornalismo quanto nas do poder judiciário eleitoral.

Coube ainda ao poder judiciário deixar indefinida a questão da “ficha limpa”. Milhares de eleitores votaram em candidatos e candidatas que não sabiam se estavam ou não aptos para disputar a eleição. Se o Tribunal agora decidir pela inaptidão do candidato, seus eleitores fizeram papel de bobos, não porque são, mas pela incompetência daquele.

O mesmo se pode dizer da exigência legal da documentação para votar. A lei exigia o título de eleitor e um documento oficial com foto. É a bizarra situação jurídica em que um documento oficial tem que comprovar a veracidade de outro documento. O Supremo Tribunal Federal revogou a lei exigiu obrigatoriamente um documento oficial com foto. Jogou-se o título de eleitor, definido pelas autoridades eleitorais que não teria foto, na lata do lixo.

Coube ainda mais um deslize do Supremo Tribunal Federal: a descoberta que um de seus membros, Gilmar Mendes, (Dantas, para alguns da mídia), foi monitorado pelo candidato tucano na sessão que julgou a necessidade ou não de dois documentos para votar. Até o momento, nenhum pronunciamento do STF sobre esse caso vergonhoso a que foi submetido. O impeachment do Mendes/Dantas se torna um imperativo.

Sobre a mídia burguesa, talvez tenha sido a maior conquista da sociedade brasileira neste processo eleitoral. Ela mesma – frente a fragilidade dos partidos direitistas – se outorgou o papel de ser o partido de oposição ao governo Lula. Não poupou espaços em seus noticiários para algumas lideranças do campo de esquerda – desde que fosse para falar de escândalos pontuais e atacar a pessoalmente a candidata Dilma. Não hesitou em massacrar o currículo de vida de pessoas públicas, mesmo sem provas. Recorreu á receptador de cargas de mercadorias roubadas, repassador de notas falsas de dinheiro, condenado pela justiça, para noticiar fatos não comprovados. “Assassinou” um senador (Romeu Tuma) hospitalizado. Enfim, caiu a máscara da mídia burguesa. Ganhamos!

Nesse sentido, precisamos consolidar esta vitória conquistando uma lei de controle social sobre os meios de comunicação, que garantam a liberdade de expressão e o direito à informação ao povo brasileiro. A bandeira da democratização da comunicação é da esquerda e dos movimentos sociais, não dos demotucanos e dos proprietários dos meios de comunicação.

Agora é o espaço de luta do segundo turno das eleições. Não há espaço encima do muro. Os movimentos populares da Via Campesina brasileira, já no início do processo eleitoral, tomaram a definição de impedir o retrocesso ao governo neoliberal representado pela candidatura de José Serra.

É hora de levar essa decisão, buscando a unidade, com todos os movimentos populares, sindicais e estudantis, do campo e da cidade. Se a Dilma não é o governo dos nossos sonhos, certamente o Serra é o governo dos nossos pesadelos.

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