quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Brasil, a ditadura perfeita

Por Gilberto Maringoni, em seu blog:

Mario Vargas Llosa uma vez classificou a hegemonia de mais de sete décadas do Partido Revolucionário Institucional no México como “a ditadura perfeita”. O escritor peruano, que nada tem de esquerdista, admirava-se com a completa hegemonia do PRI sobre todas as instituições públicas, meios de comunicação e empresas do país, que não passou – formalmente – por períodos abertamente autoritários, como Brasil, Argentina, Chile e quase toda a América Latina.

A violência no México sempre foi legal e funcionou como máquina de moer carne dentro das mais estritas normas republicanas.

Talvez a classe dominante brasileira, com Michel Temer de preposto, tenha produzido algo semelhante, em período de tempo menor que a assistida nas proximidades do rio Grande.

O golpista dirige o país com vento contrário de 95% da população. Pouco importa. Não há crise de representação – como diziam os analistas dos levantes de 2013 – pois o peemedebista responde na verdade aos outros 5% que lhe dão trela.

É possível que só na República Velha, uma ditadura da minoria tenha conhecido tamanha ascendência sobre o Judiciário, o Legislativo e sobre os meios de comunicação. Campos Salles foi explícito ao dar meia volta em resultados eleitorais adversos, através da “política dos governadores”.

Mas estávamos em um país agrário, recém saído da escravidão e com 65% de analfabetos (censos de 1900 e 1920) – e com cerca de 15% de brasileiros aptos a votar. O panorama agora é outro.

Temer granjeia quase unanimidade entre o capital financeiro, o agronegócio e os oligopólios transnacionais. Se enviar à Câmara emenda propondo a revogação da Lei da Gravidade, periga aprovar a medida.

Por que motivo, uma administração que em um ano e meio afundou ainda mais o Brasil, depois do desastre de Dilma Rousseff, não desperta revolta e mobilizações populares?

Porque a apatia social atual é como o subdesenvolvimento nas palavras de Nelson Rodrigues: não se improvisa, é obra de décadas.

À falta de pesquisas empíricas, pode-se apenas intuir o que se passa. Para começar, o desencanto com o voto provocado pelo estelionato eleitoral de 2014 parece ter sido profundo. A isso se soma o fato de que a grande queda de qualidade de vida se deu em 2015 – ano em que o desemprego aumentou em 50%. Mas o fator primordial agora deve ser o medo do desemprego e a introjeção de uma “normalidade sofrente”, na qual os efeitos da crise além de abater o ânimo das pessoas foi aceito como parte da paisagem.

Mas é bom repetir: todas essas são apreciações subjetivas, sem base empírica.

Por isso, mais importante que as eleições de 2018, o que vale é a travessia de 2017 e o andamento da pauta restante das reformas reacionárias. Se não resolvermos esse nó, Michel Temer, Henrique Meirelles e a malta que os rodeia terão construído a ditadura dos sonhos do financismo.

1 comentários:

Silvio Paciornik disse...

Caro Gilberto, alguns reparos menores (se são menores, por que fazê-los, não é mesmo?)
1) As tuas apreciações, contrariamente ao que você afirma, por serem subjetivas, só tem base empírica.
2) Não lembro de que durante o governo Dilma tivéssemos desemprego tão alto.
3) A respeito do comentário do Vargas Llosa (que pena que ele seja tão reacionário) em 1983 na cidade do México, durante uma viagem para participar de um congresso, assisti um debate político na televisão onde um candidato de oposição ao PRI fez a seguinte afirmação: "O México não vive uma democracia. O que temos aqui é uma ditadura amenizada pela corrupção". Penso que essa frase merece alguma reflexão.
Silvio.